Translate

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Instrumentos pouco usados mas muito expressivos #


A riqueza de timbres encontrados nos vários instrumentos e’ responsável por grande parte da riqueza sonora e beleza da musica. Hoje temos à nossa disposição um quase infindável acervo de sons virtuais (sampleados) de praticamente todos os instrumentos, com uma qualidade fantastica, de acordo como alto padrao sonoro que a tecnologia atual alcança. Nos do 14 Bis sempre procuramos estar sempre atualizados com os novos instrumentos – e fomos das primeiras bandas a ter Minimoog, Prophet-5, DX-7, guitarra synth (com midi) etc. Mas também sempre demos muito valor e exploramos instrumentos não muito usuais. Instrumentos acústicos, que evocam uma musica mais simples, mais pastoral, e que foram – e ainda o são – usados durante séculos, alguns de origem quase pré-historica. E foram usados por músicos que alcançaram um nível de execução realmente admirável. Mesmo não sendo virtuoses nesses instrumentos, muitas vezes foram usados em nossas gravações: assim, a gravação original de Natural, tem como instrumento principal um bandolim, instrumento onde o Flavio compôs a musica. Claudio toca uma bela flauta barroca em A qualquer tempo, uma canção não muito conhecida, mas que considero uma das mais belas da banda. Na mesma linha vem Carrossel, onde uso um cravo (harpsichord) – instrumento tão popular na renascença/barroco, usado por grandes Mestres como Bach, Sweelinck, Handel e ate Mozart. A gravadora EMI-Odeon, onde gravamos nossos 1.os trabalhos tinha um cravo maravilhoso, de 2 teclados, semelhante a esse da foto ai em cima. Usei-o também ate antes numa musica do “Disco do Tênis”do Lo Borges. Por outro lado, a harmonia deliciosa de Viola e Mel tem muito a ver com o acordeon que o Flavio toca( e bem!). É um instrumento de teclado, mas nunca me aventurei tocá-lo, apesar de apreciar muito: tenho discos de Gonzagão, Sivuca e outros mestres do instrumento.Tem uma grande expressividade, semelhante ao bandoneon e à gaita (o som vem da expiração do ar - quase como a "respiração"da voz humana). Isto lhes possibilita conferir a cada nota, uma expressão melódica única. No caso do acordeon, não é fácil de controlar o fole - a mão esquerda abrindo e fechando o fole para tocar acordes. Complicado demais pra mim: não ia querer tocar mal um instrumento que tanto aprecio. Digo que sou "sanfoneiro frutrado": o orgão Farfisa em O Violeiro, toco como se fosse sanfona, prestem atencao...
Mas sempre achava um jeito do Flavio tocar acordeon...Qdo eu e ele compusemos Ponta de Esperanca, do 1.o disco (na mesma epoca de Planeta Sonho, que ficou pro 2.o pois a letra nao tava pronta ainda) bolei um solo de acordeon no final da musica, que acho muito bonito. O Flavio gravou bem, mas ficou um pouco de ruido das teclas e do fole - afinal era um instrumento que ele tocava só de vez em qdo. Aí chamamos o Oswaldinho, gde acordeonista conhecido nosso, que fez o solo com técnica perfeita. Mas acreditem que, na mixagem final, misturei os dois solos, pois o do Flavio ficou muito mais expressivo (afinal, a musica era nossa...) e usei a gravacao do Oswaldinho só em pequenos trechos (onde havia ruido na gravação do Flavio). Acho que nem eles perceberam isso, rsrs - mas foi assim para o disco! No Bis acústico, usamos, alem de gaita, steel-guitar, cachon (acho que eh assim que escreve) – uma caixa de madeira de origem ibérica, com um som semelhando ao bumbo, mas mais suave e com afinacao mais precisa.
Bem, espero que em nossos futuros trabalhos, a gente volte a somar toda a tecnologia de instrumentos virtuais que temos, com a simplicidade destes instrumentos acústicos: pois muitas vezes nos vem inspiração para compor uma musica tocando em um instrumento que não seja o que estamos acostumados e conhecemos e tocamos melhor... Assim, talvez um dia a gente volte a fazer isto, Magrão tocando violão, eu tocando viola de 12” ou baixo, Hely na percussão, Claudio na flauta doce ou gaita, etc... Sem falar, claro, na participação de outros músicos, nos diversos instrumentos de percussão, de cordas, de sopro, e os arranjos para orquestra ou quarteto de cordas, que sempre enriquecem muito a sonoridade de uma canção. Basta olhar o exemplo do quarteto a la Villa-Lobos em Eleonor Ribgy dos Beatles, ou os maravilhosos arranjos de Rogério Duprat e outros maestros para nossas musicas (Carrossel, Todo azul do Mar, Caçador de Mim, Nave de Prata etc)... Se pesquisarem em nossas gravações, encontrarao certamente mais algum desses instrumentos não muito usuais, com seu timbre único, enriquecendo alguma de nossas cancoes.
Abs
Vermelho


8 comentários:

Lívia Bastos disse...

Vermelho,
Como é bom saber estes detalhes que nós meros ouvintes leigos não percebemos. Apenas nos encantamos com a beleza da obra mas estes detalhes passam despercebidos.
Obrigada por nos trazer essas preciosidades.
Beijos
Lívia Bastos

João Tostes disse...

Olá Vermelho. É um prazer poder utilizar este canal de comunicação para falar com uma pessoa tão especial na música brasileira.

Também me interesso muito por instrumentos não muito utilizados e, ultimamente, estou me dedicando ao bandolim e à viola caipira, para utilização no rock.

Também tenho interesse na Steel Guitar (ou no Lap Steel), mas ainda não tive oportunidade de iniciar.

O Cravo é outro que sempre me encanta, como no belíssimo solo de Amanhã ou Depois, do Nenhum de Nós e, é claro, na própria Carrossel do 14, como você mesmo citou (e gravou). Parabéns! Simplesmente excelente!


Não sabia da existência do seu blog. É um espaço maravilhoso no qual poderei sempre ficar perto de alguém que é um ídolo, principalmente aqui em nossa região (sou natural de Barbacena e continuo morando aqui).


Um grande abraço!


João Paulo Tostes

Aggeu Marques disse...

Ô Vermelho meu véio. Só passei pra te dar um abraço e agradecer pelo apoio e inspiração que vc me proporciona.

Aggeu Marques

Beto Teixeira disse...

caro vermelho, você matou uma curiosidade minha que durava a pelo menos 28 anos: O cravo de "Carrossel". na época eu tinha um piano elétrico giannini que tinha um preset de "harpsichord". Só que o raio do timbre nem se assemelhava ao cravo de "Carrossel", um cara que tocava comigo dizia sempre: "O mané, a diferença é uma só, é que o Flávio Venturini usa cravo da Yamaha, não da Giannini. Só que me achava que aquele timbre cristalino não poderia sair de um preset de orgão ou synth, por outro lado, existir nos dias de hoje um cravo disponível era quase impossível pra mim. Enfim...Aí está o fim do mistério. Quer dizer que no estúdio da EMi tinha um cravo original. Caramba...e ainda acabaram com aquele estúdio....
Um abraço
Roberto

Unknown disse...

Caro Maestro.....

Seus escritos me fizeram lembrar de duas coisas:

01- Do penultimo álbum de George Harrison, CLOUD NINE, em que tudo era tocado em instrumentos VINTAGE...... Tá certo que a banda tinha uns caras promissores... Elton John, Eric Clapton, Jeff Lynne....... Só gente de futuro....rsrsrsrs

02- Até o álbum THE GAME, o QUEEN colocava nas fichas técnicas NO ONE PLAYS THE SINTHEZISER....... Sempre achei aquilo curioso..... Hoje sei que uma clara referência a técnica dos músicos que não se valem de recursos tecnológicos....... Mas até eles tiveram que se render a modernidade........

Grande abraço

João Pedro disse...

Vermelho!!! Estou adorando ler o blog!!! Mto legal, parabéns!!!!

Unknown disse...

Vermelho,
adorei e acho que todo mundo que eh fa de musica mais elaborada adora saber essas informacoes sobre instrumentos. Outro dia eu e um amigo comentavamos porque umas musicas nos parecem tao sofisticadas melodicamente e outras nao. Entao comecamos a tentar reparar em todos os detalhes das musicas, esse seu post nos ajudou muito. Sem contar que vc escreve bem e por isso eh gostoso tb para quem gosta deler.

Unknown disse...

Olá! Que artigo excepcional! Cheguei aqui avidamente procurando qual seria a flauta tocada em "Qualquer tempo". Tamanha a minha surpresa que um grande icone da música brasileira me tiraria essa dúvida. Um grande parabéns Vermelho, as melodias criadas por você juntamente com o 14 bis embalam várias gerações da minha família!