O disco
MILTON - ver capa que ilustra o texto - é o antecessor imediato do(s) Clube da Esquina 1 e 2. Seria mais apropriado,
talvez, se dizer o precursor do emblemático Clube. Pois, na verdade quase todos
elementos e características, musicais principalmente, que marcarm O Clube, já
estão presentes neste maravilhoso disco, lançado em 1970. Participam, alem de
Milton, claro, Som Imaginario (Tavito, Wagner Tiso, Fredera, Ze Rodrix, Luiz
Alves, Robertinho Silva e a percussão e vocalizes afro de Naná Vasconcelo). Lo
Borges, Toninho Horta e os parceiros poetas Marcio Borges, Ronaldo Bastos,
Fernando Brant, Rui Guerra e Tom Jobim-Vinicius, que com sua Felicidade
propiciam a Milton uma das mais belas interpretações de sua carreira.
Um
lado pouco divulgado de Milton é o sua enorme capacidade de “reagimentador” (na
falta de outra palavra...): aquela capacidade de aglutinar musicos de talentos
diversos a seu redor, organizar a ‘falta de coro’, incentivar iniciantes,
re-encontrar os ja consagrados, misturar artistas dos bailes da vida da noite
com musicos de estudio, enfim, fazer com que a soma dos talentos seja muito
maior do que o valor individual de cada
um. À la Miles Davis, seu mestre e
inspirador. E seguindo nesta direcao, temos o Milton produtor e diretor musical,
incentivador de carreiras hoje de sucesso, apoiando, junto as gravadoras (que
na epoca eram abertas a ouvir quem entende de musica, ou seja, os artistas, e
nao como hoje, onde sao os diretores financeiros, que voltados apenas para o
suce$$o imediato, levaram nossa musica ao marasmo de ma qualidade, onde impera
o mau gosto e impede surgirem tantos novos talentos que existem por aí.
Praticamente todos que participaram com ele
deste Minas e dos Clube da Esquina,todos que participaram com ele deste Minas
e dos Clube da Esquina tiveram seu apoio para fazerem decolar suas carreiras individuais:
Lo Borges, Toninho Horta, Beto Guedes, Som Imaginario, Nelson Angelo, Wagner
Tiso, 14 Bis (foi inclusive produtor do 1.o disco da banda, que gravou em primeira mao musicas suas que
se tornariam sucesso: Cançao da America, Bola de meia, bola de gude, Bailes da
vida.. . alem de Caçador de Mim (Sergio magrao-L.C.Sa) que, gravada
originalmente pel o 14Bis, se tornou sucesso na voz de Milton. Assim como
tantas outras musicas que esse fantástico crooner interpreta com o poucos:
Viola enluarada, O que será que será , Caicó , Cuitelinho e outras perolas de
nossa musica. Sem falar nas pouquíssimos conhecidas interpretações de worlmusic,
onde o vocalize único pode ..soltar a voz ... como canta em Travessia. Gravou
chansons de Guilhaume de Machaut, compositor do sec. XIV, num disco maravilhoso
(que inclusive apresentei e acabou ficou com ele... ta perdoado, so quero
copia, ta Bituca?) com outros cantores de nome internacional, como é o proprio Milton. Outro exemplo é uma
antiga gravação de um Oremus, de Edu
Lobo, com Tenorio Junior ao órgão. Fiquei muito tempo pesquisando esta musica
na Internet e finalmente a encontrei. Apesar de ser uma rara gravaçao antiga,
ainda emociona.
http://www.youtube.com/watch?v=c5hdCZYxji0 Oremus (Edu Lobo) voz:Milton Nascimento
Nesta época,
em toda America do Sul os regimes totalitários eram uma constante e perigosa
realidade. O Brasil, claro, também vivia num regime de total repressão a toda
forma de livre expressão, ainda mais a musica, pela sua imensa capacidade de
tocar as pessoas.
Assim, neste
contexto, lido assim de repente, o
titulo dessa materia (elementos do clube da esquina s ja presentes em Minas) poderia ter uma conotacao quase
policial; ainda mais se fosse na epoca da Ditadura, quando este disco foi
lançado. Milton na epoca foi talvez o unico grande artista da MPB que nao for a
exilado, e ficou por aqui contribuindo, à nossa maneira, para o fim do regime
autoritario e anti-democratico que havia no país. Teve dezenas de musicas
censuradas, e como diz ele mesmo, “… olhe que tentaram censurar a voz
tambem”. Ainda bem que nao o fizeram – ninguem conseguiria calar uma das vozes mais bonitas que surgiram nesta
America Latina, de San Vicente e para Lennon e McCartney, de Travessia a Nada
será como antes… musicas que sao e serao sempre classicos em nossa musica. Parabens
de novo, Bituca. Viva la Musica, Viva la Vida. Linda Juventude sempre.
5 comentários:
sensacional reflexão, parabéns pela bela homenagem.:)
Que bom que voltou a escrever aqui, a gente agradece!
Uma bela homenagem! Quem conhece, conhece né!
bjo procê =D
Vermelho, que bom que voltou a escrever em seu blog! Ainda mais num momento tão oportuno como o aniversário do Bituca. Parabéns a você e a ele. E lembranças ao Ildeu.
A propósito, vou tentar postar no blog do 14 Bis a canção "Pura Miragem", que quase ninguém tem.
Um abração.
Aldo Bizzocchi
www.aldobizzocchi.com.br
Concordo em gênero, grau e numero. Sempre achei esse disco uma prévia, um ensaio do que viria 2 anos depois!
ótimo texto, grande reflexão.
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