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sábado, 3 de novembro de 2012

Viagem nos anos '60 ...#


Divertida e bem escrito panorama de como eram os anos '60 - valido tanto para os que v epoca como para a maioria, que apenas ouvem falar, atraves de seus pais (ou ate avos) saudosos de uma década onde o mundo se tornou um 'aldeia global' (termo da época), ainda mais com o advento de celulares, internet etc...Fiz um resumo aqui, ainda meio longo, do excelente texto do Frederico Mendes, (a quem agradecemos de coraçao) escrito em 2004:
http://www.flickr.com/photos/frederico_mendes/63985139/  Lá vao  encontrar  completo este depoimento, que conheci  atraves de meu amigo e irmao em musica, Flavio (Venturini) que compartilhou comigo grande parte do tempo nesta decada tao importante em nossas vidas - nos conhecemos fazendo serviço militar, nos tornamos amigos e parceiros em musica e na vida. Anos depois foramariamos a base da banda  14 Bis.
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Conheço muitos jovens com saudades dos anos 60, tão idealizados e imaginados através do cinema, livros ou relatos dos pais.  Para eles seria uma época mítica e lendária, os anos rebeldes. Também tenho saudades, mas não era bem assim...
Não havia internet, Google, fax, celular e muito menos TV a cabo. Os quatro canais existentes começavam a funcionar ao meio-dia e encerravam a programação lá pela uma da manhã. E depois só ficava na tela um desenho estranho e estático nos dando boa noite até o final da manhã.
Tínhamos que ir à biblioteca para fazermos pesquisas de colégio. Os discos, que eram chamados de "long-plays", de no máximo 32 minutos eram virados para poder tocar o lado B. Não havia controle remoto e nem telefone sem fio.
Os telefones, assim como os táxis, eram sempre negros e muito pesados, com exceção dos telefones de quartos de madames (ou madames de Hollywood) que eram quase sempre brancos.
Telefone no Brasil sempre foi um problema. Custava caro e só poucos tinham em casa, tal qual as televisões que eram raras, caras e poucos no prédio tinham essa novidade. Éramos quase todos, não telespectadores, mas tele-vizinhos.
Para fazer uma ligação telefônica tinhamos que esperar o telefone "dar linha".
Não havia DDI e uma ligação internacional demorava mais de quatro horas para ser feita pela telefonista. Quando a ligação se completava, nem sempre sabíamos mais do que queríamos falar ou então aquela paixão monumental já tinha virado um simples "flêrte".
Computadores, só os bancos tinham. Gigantescos, ocupavam andares inteiros e só eram compreendidos por especialistas que possuíam curso universitário sobre o assunto.
Dentista doía, e doía muito! O motorzinho lento fazia um barulho infernal e trepidava muito....
Em compensação a música era muito melhor! John Lennon, Jim Morrison, Janis Joplin e Jimi Hendrix, todos os jotas ainda estavam ativos. Muito doidos, mais pra lá do que pra cá, mas vivos. Bob Dylan não era o fanático religioso de hoje e influenciava toda uma geração de "quero-ser-poeta".                                                Uma calça Levis 501 custava o equivalente a US$ 3,00 no Mercadinho Azul de Copacabana, paraíso dos importados contrabandeados por aeromoças da finada Panair do Brasil. O perfume Lancaster vinha da Argentina e todos nós, rapazes da Zona Sul usávamos.O cheiro deste perfume nas festas concorridas era massacrante para as narinas mais sensíveis. Do Paraguai só chegava uísque falsificado, isto é, nacional legítimo Made in Assuncion. As camisas eram de Ban-lon, ou de malha com psicodélicos jacarezinhos verdes. E não é que a Lacoste voltou à moda?
A Brigitte Bardot, a Sophia Loren  e Claudia Cardinale ainda eram umas gatas (essas duas italianas continuam bonitas) e contávamos pin-ups pulando a cerca até cairmos no sono, nossos "wet dreams" noturnos.
A Sonia Braga, linda aos 18 anos, tirava a roupa (nuínha em pelo!) todas a noites na peça Hair. Meninos, eu vi! Aliás, eu ia em quase todas as noites porque era amigo do elenco e tinha passe livre. E o Wilker era só um ótimo ator meio estranho e ruivo.  As mulheres bonitas tinham "it". Nós, garotos, éramos divididos entre os pães e os muquiranas, ou bonitos e feiosos.  Alain Delon era um “pão” , amado pelas meninas, imitado pelos garotos, e era par constante da bela Romy Schneider em filmes (foto) e na vida real.
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Os discos e filmes dos Beatles dos Stones (foto) demoravam meses para serem lançados aqui. Mas quando chegavam eram uma festa, festa mesmo com todo mundo dançando twist e yê-yê-yê. As meninas alisavam o cabelo com ferro de passar roupa e só gostavam de garotos de cabelos lisos. Os meninos de cabelos mais rebeldes dormiam com ridículas toucas na cabeça feitas com meias de seda surrupiadas da mãe ou da irmã. E sempre acordávamos com uma marca na testa que só saía da cara da gente lá pela hora do recreio.
Isto até 1966, quando surgiram os primeiros hippies e seus longos cabelos encaracolados.
E foi aí, com os meus rebeldes cachos que arrumei a minha primeira namorada, época mais ou menos dessa foto aí de cima.
As câmeras eram analógicas, manuais e muito mocorongas. Photoshop era apenas uma tradução para loja de fotografias, para quem estudava no IBEU ou para quem tinha feito American Fields, isto é, cursado a high school nos cafundós do centro-oeste americano.
Outra coisa interessante era que dávamos festas onde a grande atração era um imenso gravador de rolo onde brincávamos de gravar as nossas vozes dizendo bobagens, poesias e outras bobagens. "Poxa, minha voz é assim mesmo?" é verdade, a gente ainda não se conhecia tanto. E psicanálise ainda era considerada coisa de maluco. Só em 1968 que a análise entrou na moda. E também surgiram as primeiras fitas cassete. Lembro de ouvir o Album Branco dos Beatles em uma dessas estranhas novidades. E de achar inovador e genial uma capa toda branca e branca ainda por cima e por baixo.
Aliás, genial era o adjetivo da moda. Tudo era geniaaaal! Menos os filmes do Julio Bressane que passavam no Cine Payssandú. Eram loooongos e chaaaatos...
Havia festivais de bossa nova nos ginásios e auditórios onde cantavam jovens promissores, tipo um garoto tímido chamado Francisco Buarque de Holanda, e mais Eduardo Lobo, Nara Leão, ou uns coroas metidos a garotões como Tom Jobim, Carlos Lyra, Roberto Menescal e Vinícius de Morais. Todos geniaaais!
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A juventude era uma doença que se curava com o tempo.
Até que, no começo de 1964, a Beatlemania explodiu no mundo e tudo começou a mudar. Pela primeira vez na história, jovens começavam a formar opiniões e a mudar o comportamento vigente da sociedade careta de então.
Descobríamos a liberdade. Que não era só um jeans azul e desbotado do anúncio da US Top.
Liberdade,liberdade que (ainda que tarde ou "aqui será também" ) ainda abria suas asas sobre nós!
Ela era real e para sempre. Assim, pelo menos pensávamos.
Mal sabíamos que em 1º de Abril de 1964, o dia da mentira, um golpe militar de direita iria mergulhar o país na mais longa noite, na pior escuridão, no caos e no medo.  Uma noite que durou 21 anos.
Nesta longa e vazia noite, amigos desapareciam, como que encantados por um bruxo mau, para sempre. No que parecia ser uma escuridão eterna, havia uma tênue esperança de luz no fim do túnel. Alguns, mais pessimistas, diziam que era um trem na contramão...
Pichávamos paredes com palavras de ordem contra os militares. Passeávamos em passeatas, no centro da cidade, que sempre acabavam, em grossa pancadaria, repressão das "otoridades" e muitas prisões. E beijos entre os sobreviventes, livres, leves e até então soltos.
Mas a gente era feliz. E sabia disso, mesmo quando vivíamos na fossa. Que, aliás, eram volúveis e voláteis e sujeitas a dias de praia e sol e noites de chuva ou lua cheia.
Acreditávamos no amor eterno, mas não achávamos que veríamos o século XXI. E 2001, além de ser um grande enigmático filme (para os reles mortais e burgueses que não entendiam bulhufas), era uma data abstrata e distante.
Nos saudávamos uns aos outros com um simples:
"Paz e amor".
Acreditávamos nisso.
Continuo acreditando...

Frederico Mendes, abril 2004.


4 comentários:

Ana Beltrão disse...

Um texto cheio de saudosismo e lembranças; sempre bom saber que em qualquer época, tempo, sempre teremos nossas construções e memórias a recordar em um futuro sempre distante ! :)

Antonio Siqueira disse...

Muito bem abordado.
Saudosismo é como uma esperança saudável de que algo no mundo se curve ao que foi bom.
Parabéns amigo!

anja disse...

Que texto delicioso! Sou grata a Vicente Viola por me apresentar.
"A juventude era uma doença que se curava com o tempo." Que incrivel né. E tu contas tudo de um jeito, que pra mim é quase uma fábula.
Ah as calças contrabandeadas! Meu irmão falava muito disso... Levou algumas surras por isso. :))
Os coroas geniais! RiMuito!
Adorável!
Parabéns!

anja disse...

Que texto delicioso! Sou grata a Vicente Viola por me apresentar.
"A juventude era uma doença que se curava com o tempo." Que incrivel né. E tu contas tudo de um jeito, que pra mim é quase uma fábula.
Ah as calças contrabandeadas! Meu irmão falava muito disso... Levou algumas surras por isso. :))
Os coroas geniais! RiMuito!
Adorável!
Parabéns!